Comitê pelo Meio Ambiente: conheça a trajetória do reciclador Alexandro Cardoso

Eduarda Costa

Comitê pelo Meio Ambiente: conheça a trajetória do reciclador Alexandro Cardoso

Eduardo Ramos

Alexandro Cardoso durante segundo encontro do Comitê pelo Meio Ambiente, que ocorreu na sede do Grupo Diário. Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Da terceira geração de catadores da família, Alexandro Cardoso se envolve com o trabalho da seleção de materiais recicláveis desde criança, pois nasceu convivendo com a rotina de duas catadoras, sua mãe e avó. Na infância, em Porto Alegre, ele acompanhava a família desde o processo de coleta nas ruas, pelo carrinho, até a separação em casa do que foi recolhido.

– As minhas brincadeiras e as minhas vivências eram todas integradas, eu não sabia onde era minha casa e onde era o galpão, eu não sabia quando estava brincando, quando estava limpando ou quando estava separando materiais – comenta o catador.

Em 1994, aos 14 anos, ajudou a criar uma Cooperativa para os Catadores, o qual passou a organizar o processo de trabalho coletivo e participativo entre os trabalhadores da Zona Sul da capital gaúcha. Em 2001, organizou um ato de Movimento Nacional dos Catadores, na capital Brasília (DF), que reuniu mais de 1,7 mil catadores de todos os estados. Em meio à estas inserções, Alexandro se afastou dos estudos, com apenas a 5ª série do ensino fundamental concluída, e só retornou em 2014, aos 34 anos.

– Quando eu retornei aos estudos, tive que sentar do lado da gurizada, discutir assuntos que não eram familiares para mim. Passei do Fundamental para o Médio, depois fiz um cursinho para entender sobre o Enem, e entrar na universidade pública.

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Em 2018, Alexandro ingressou como calouro no curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A entrega de seu trabalho de conclusão de curso foi realizada no galpão de reciclagem, no qual Alexandre foi pioneiro na apresentação fora do campus da universidade:

– Foi a primeira vez que a universidade permitiu que um trabalho fosse apresentado fora dos muros da universidade. Tinham 80 catadores presentes e mais 3,5 mil assistindo online, então foi algo fantástico.

No momento, Alexandre é mestrando do programa de pós-graduação em antropologia social na mesma instituição. Também é delegado da Organização das Nações Unidas (ONU), pela América Latina, representando questões relacionadas ao Meio Ambiente. Entre as demandas em discussão, está o impacto do plástico no planeta, e consequentemente nos oceanos.

Nestes anos de atuação, ele já visitou inúmeros países da América Latina, Europa e Ásia, para apresentar as reflexões e conclusões de seu trabalho.

Autor do Livro Do lixo ao bixo

Em seu livro “Do Lixo do bixo: a cultura dos estudos e o tripé de sustentação da vida”, Alexandro conta justamente a sua trajetória como reciclador, até a chegada na universidade, quando foi “bixo”. A narrativa foi construída pelo olhar da educação a partir das vivências do povo marginalizado da periferia.

Foto: Renan Mattos (arquivo Diário)

Alexandro relata que outra discussão presente no livro é a desigualdade social e a indiferença da população diante dessa realidade. A obra foi lançada em outubro de 2021, durante a 27ª Feira Internacional de Cooperativismo (Feicoop).

– A gente quer que as pessoas consigam realizar seus sonhos, então por que a gente não investe na educação e na base de transformação social? Porque a revolução acontece diariamente dentro de cada um de nós, e quanto mais a gente aprende, mais a gente compartilha e faz a sociedade ser melhor.

Comitê pelo Meio Ambiente

Alexandro Cardoso participou como palestrante do segundo evento do Comitê pelo Meio Ambiente, iniciativa que reúne seis entidades de Santa Maria que buscam construir alternativas sustentáveis para o futuro. Na oportunidade, Alexandro falou sobre sua experiência como catador, a importância da coleta seletiva e a realidade de Santa Maria. Confira, nesta reportagem, como foi o evento.

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

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